quarta-feira, 12 de março de 2014

Entrevista a Carlos Costa, novo líder do PS Gouveia.



O professor Carlos Costa aceitou dar a primeira grande entrevista ao blogue Jornal O Hermínio na condição de presidente da concelhia do Partido Socialista de Gouveia. Aceitou abordar as principais questões da secção partidária local e principalmente sobre o concelho de Gouveia.

Jornal O Hermínio - Bom dia professor Carlos Costa, desde já os nossos agradecimentos ao repto por nós lançado para esta entrevista.
Carlos Costa - Bom dia, eu é que agradeço.
Jornal O Hermínio - Depois de muita indefinição dentro do Partido Socialista em Gouveia, assume a presidência da concelhia. Como revê este período recente do PS Gouveia?
Carlos Costa: Não sei se a indefinição a que alude se refere aos dois actos eleitorais que se apresentaram desertos. Se for, aquilo que lhe posso dizer, enquanto militante de base e conhecedor da opinião de uma faixa alargada de outros militantes e dirigentes, é que se traduziu num acto de maturidade, esta capacidade de reflexão evidenciada, sem se ceder à pressão dos timings da estrutura nacional, para que fosse possível construir uma lista forte e coesa como aquela que se alcançou e que é do conhecimento público. Não comungo, portanto, da sua opinião quanto à indefinição, pelo contrário as pessoas sabiam, perfeitamente, qual a solução que desejavam.

J.H. - O que o motivou para assumir uma lista, por sinal única à presidência?
C.C - Como tive oportunidade de dizer na entrevista que dei ao NG, decorreu de dois propósitos distintos: o primeiro, da necessidade de conferir ao PS de Gouveia uma estrutura capaz de enfrentar os desafios futuros, enquanto estrutura política à escala concelhia, assente num processo de renovação sem paralelo, onde cada elemento desempenhará funções específicas no contexto da orgânica funcional que se pretende implementar; o segundo, da necessidade de dar voz a sectores importantes da sociedade do nosso concelho, independentemente de terem votado ou não no Partido Socialista. Demasiados erros de gestão autárquica têm vindo a ser cometidos sem direito ao contraditório ou, no mínimo, com auscultação prévia dos interessados, pelo que urge alargar essa participação no debate.

J.H. – Nos últimos anos muito se tem falado no interior do PS Gouveia, nomeadamente uma certa divisão no seio do órgão. Hoje a concelhia está unida? Ou Carlos Costa terá ainda de limar arestas no que respeita à união dos socialistas em Gouveia?
C.C- Vai para oito anos que não participo em qualquer órgão do PS de Gouveia, pelo que seria deselegante falar de hipotéticas cisões internas. A única coisa que lhe posso garantir é que a lista que lidero reúne um naipe de pessoas fantásticas, disponíveis para trabalhar em prol de Gouveia. Pessoas com créditos firmados na sociedade gouveense. O entendimento entre as pessoas é total. Portanto a metáfora não tem qualquer enquadramento, encontram-se toda a gente unida em prol de objectivos comuns

J.H. – Olhando agora para os últimos doze anos o que faltou ao PS Gouveia para impor-se eleitoralmente, sobretudo no pós Santinho Pacheco? Terá sido mal acautelada a sucessão?
C.C- Essa é uma questão complexa, desde logo porque envolve um período temporal alargado, pessoas e contextos diferenciados. O único facto concreto, nesta sua questão, é que o PS não conseguiu fazer vingar as suas propostas junto do eleitorado, de modo a garantir a vitória. Naturalmente, tenho uma visão muito lúcida desse período. Todavia, este não é o tempo de “chorar sobre o leite derramado”, encontramo-nos numa noutra etapa, com novos actores, tentando construir novas abordagens e implementar novas práticas. Não é dizer que vamos fazer melhor, vamos tentar fazer diferente… novos contextos, novas estratégias.

J.H.- O PS Gouveia terá duas vozes, atendendo que não tem “assento” em reuniões de Câmara? Haverá a voz de Armando Almeida e a voz de Carlos Costa?
C.C.- Posso garantir-lhe que não haverá, seguramente, duas vozes. Independentemente dos interlocutores com assento no órgão “Câmara Municipal” o PS vai falar a uma só voz, que não subsista qualquer dúvida a esse respeito.

J.H. – Não sente uma certa “pressão” neste novo cargo face às sucessivas derrotas eleitorais locais, nos últimos anos?
C.C.- Como sabe, não tive qualquer responsabilidade no desempenho do PS ao longo dos últimos 8 anos, pelo que, apesar de ser solidário com os meus camaradas, não me pode ser imputado (e de facto ninguém imputa) esse ónus: o das sucessivas derrotas. O futuro próximo do PS Gouveia começou no dia 28 de Fevereiro e faço tenção de fazer funcionar a CPC do PS - Gouveia numa perspectiva sistémica, o que exigirá, de cada um, responsabilidades específicas, porque estamos a falar de um órgão colegial, de modo a que o projecto se apresente partilhado e haja co-responsabilização sobre as decisões. Porém, darei a cara pelo que vier a acontecer e, assim sendo, a responsabilidade maior será minha. Se chama a isso trabalhar sobre “pressão”, então ela encontra-se controlada como, aliás, é normal em tudo o que faço na vida. Em suma, não me revejo nesse “colete-de-forças”, por considerar que a exigência se deve configurar como algo de natural nas nossas vidas.

J.H.- Que retrato faz destes primeiros meses de governação de Luís Tadeu à frente do Município de Gouveia?
C.C.- Sinceramente, gostaria de poder dizer que o balanço é positivo. Como residente e contribuinte no concelho desejaria… Porém, como não alcancei uma linha consistente de pensamento no programa que o PSD apresentou, aquando das eleições autárquicas, as expectativas também não eram grandes. Constato, hoje, que aquilo que se faz é navegar à vista! Não sei se o actual presidente pretende continuar na linha daquilo que foi a gestão anterior, da qual é co-responsável ou, pelo contrário, se já renunciou à herança e pensa seguir um percurso alternativo. O que vejo são trapalhadas com questões que se revestem da maior importância para muitos gouveenses, começando pela empresa municipal…

J.H. – Tem percepção da situação financeira da Câmara Municipal de Gouveia?
C.C.- É óbvio que tenho uma percepção e resulta dos dados oficiais, aqueles que são apresentados para publicação em estatísticas periódicas do INE. Todavia, esta é uma matéria sobre a qual só conseguimos ter uma ideia concreta quando temos acesso a toda a informação que, por via de regra, nos trás sempre surpresas desagradáveis. Para já, lido com o que se encontra plasmado no(s) orçamento(s), revisões do dito e contas de gerência… mas temos de concordar que não é famosa.

J.H.- Num concelho cada vez mais envelhecido , onde o jovens não encontram espaço, que lhe parecem as medidas do programa eleitoral do PSD  que agora irão avançar ?
C.C.- Francamente, muito vagas e imprecisas. O programa foi um saco vazio de ideias, como já fiz questão de sublinhar, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, relativamente ao que se apresenta como estruturalmente importante de se fazer. Podia dar-lhe exemplos, medida a medida, sector a sector. O programa do PSD resultou nuns quantos soundbites inconsequentes. Mas para que não pareça que estou apostado numa abordagem derrotista, dou-lhe um exemplo: o da mais recente medida apresentada e aprovada, que foi a do incentivo à natalidade. Percebe-se que não se encontram esclarecidos sobre o que fazem: uma política natalista não consiste dar cheques ou vales de compras no comércio local… qualquer aluno do ensino secundário conseguia fazer melhor do que isso.

J.H. – As empresas com capitais municipais, a Gaventur e a Gouveinova continuam a existir , não se sabe porquê e com que objectivos. Que comentário merece da sua parte esta questão?
C.C.- Pelo que me foi proporcionado ver na pretérita Assembleia Municipal, no que concerne ao debate sobre esta matéria, não vale a pena gastar grande tempo com isto… do ponto de vista dos problemas estruturantes é um fait-divers que, apesar de tudo, deixa o comum dos munícipes perplexo pela forma como tudo se processa. Como muito bem disse, continuam a existir sem se vislumbrarem finalidades. Mais um “inconseguimento” municipal!

J.H. – Que comentário merece da sua parte toda a questão em torno da DLCG-Empresa Municipal? Haverá necessidade do concelho de Gouveia ter uma Empresa Municipal?
C.C.- Já tivemos oportunidade de falar na EM, todavia, começando pela segunda parte da questão, a resposta é não…nos moldes em que esta se encontrava estruturada e os fins que perseguia. Quanto à problemática da sua extinção, é um problema grave e nunca tiveram a coragem de chamar as coisas pelo nome… daí a trapalhada em que se encontram metidos. Era mais importante ganhar eleições.

J.H.- Ter IRC a zero no interior resolve os problemas para que empresas invistam em cidades como Gouveia?
C.C.- Gostava de poder dizer que sim… seria fácil. Mas não, os investimentos ocorrem quando se oferecem vantagens comparativas (consultar M. Porter a este propósito) e elas nunca se assumem como dependentes de recursos isolados ou expediente fortuito. Uma longa conversa, que não encontra aqui espaço, infelizmente. Poderemos discutir quando quiser.

J.H.- Como vê este aproximar do actual executivo liderado por Luís Tadeu ao projecto de Girabolhos? Álvaro Amaro passou um pouco ao lado deste projecto.
C.C.- Álvaro Amaro passou ao lado e não foi só deste projecto e… Luís Tadeu não faz a mínima ideia do que tem pela frente. Pegue no programa do PSD (dele, Luís Tadeu) e veja o que lá consta sobre isso, um redondo e rotundo zero! Pegue no do PS (que eu próprio estruturei) e veja o que lá vem sobre esta matéria, um mundo de diferenças. Luís Tadeu não se aproximou de coisa nenhuma, limitou-se a posar para a fotografia, num cenário onde Filipe Camelo assume o papel de actor principal.

J.H. – Nenhum dos executivos ao longo do tempo e dos anos conseguiu combater uma certa fragmentação existente entre os sectores económicos e sociais do concelho, juntando-os à mesma mesa em busca de soluções comuns. Será possível encontrar um caminho comum e benéfico para todos?
C.C.- No programa do PS havia ideias muito concretas sobre como trabalhar com os diferentes stakeholders. Havia uma linha condutora, onde cada acção tinha uma estratégia pensada, logo o caminho encontrava-se pensado, seria longo e árduo… mas encontrava-se delineado.


J.H. – Concorda com as políticas na área do turismo levadas a cabo nos últimos doze anos?
C.C.- Peço imensa desculpa por não desenvolver esta questão. Apenas lhe posso adiantar que nunca concordei. Encontro-me a finalizar um trabalho de investigação que versa a problemática do turismo na região da Serra da Estrela, que contou com a colaboração dos mais importantes stakeholders da região, em formato de painel, desde académicos a gestores, passando pelas instituições ligadas ao Desenvolvimento Rural, Ambiente e Ordenamento do Território. Ao alongar-me, estaria a ter um procedimento pouco idóneo face ao que tem sido esta colaboração. Quando concluir coloco a possibilidade de fazer uma sessão pública. Então aí estarei disponível para dizer tudo o que penso e apresentar toda a informação que coligi.

J.H.- Que opinião tem na reforma administrativa levada a cabo pelo actual governo, nomeadamente a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela. Que papel poderá ter Gouveia e como sobreviverá perante outros municípios bem mais preponderantes na região como Guarda, Covilhã ou Fundão?
C.C.- Um tiro no pé… deixámos de ser a sub-região/Comunidade intermunicipal Serra da Estrela para passar a ser outra coisa, essa que aí escreveu. A ideia e ganhar massa crítica é uma ideia que serve os interesses dos municípios mais poderosos… veja-se o papel de Luís Tadeu nisto tudo: zero, resumindo-se a uma vice-presidência rotativa. Gouveia não vai retirar qualquer vantagem real. Sabe que o planeamento intermunicipal, projectos e candidaturas intermunicipais, de interesse comum, são há muito possíveis de realizar. Não era necessário entrar por aqui. Tecnicamente podia explicar-lhe a razão desta minha posição, designadamente através da sustentação de uma avaliação dos recursos, onde a imagem de marca assume papel preponderante. Isto tem ares de casamento de uma certa aristocracia falida, que vende o seu bom nome em troca de um suposto dote. Alguém lucrará com a boda, mas não será Gouveia, certamente.

 J.H. - Face à descredibilização dos políticos actualmente, consigo será mais do mesmo ou os gouveenses poderão ter outras expectativas?

C.C.- Abstenho-me de comentar, por razões óbvias. Vamos dar tempo ao tempo. Há quem diga que eu não tenho feitio para ser “político”, pela verticalidade que coloco em tudo o que faço … Tecnicamente encontro-me bem preparado, embora não tenha colocado como prioridade a vida política na minha “shortlist”. Os que me são próximos sabem que não, sempre apontei para outras direcções. Porém, como se costuma dizer: “nunca digas: desta água não beberei”. Aconteceu, mas há coisas de que não abdico: não pretendo ser mais um “político”.